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“Estou tão evergonhado” - conheça o piloto de drones que ajudou a matar 1.626 pessoas e decidiu largar tudo.

  O rosto das guerras americanas não autorizadas do outro lado do oceano tem mudado ao longo dos anos. Hoje é encontrada com ...

 

O rosto das guerras americanas não autorizadas do outro lado do oceano tem mudado ao longo dos anos. Hoje é encontrada com frequência a olhar para o ecrã de infravermelhos de um terminal nalguma base bem protegida da força aérea em solo americano, operando remotamente a milhares de quilómetros de distância drones fortemente armados e incumbidos de alguma missão letal que normalmente implica perda de vidas “colaterais”.
Durante quase cinco anos, Brandon Bryant foi uma dessas caras e trabalhou no programa secreto americano de drones, bombardeando locais no Afeganistão e em outras partes do mundo.
Disseram-lhe que tinha ajudado a matar 1.626 pessoas, mas com o passar do tempo ele começou a sentir-se apreensivo com o que fazia. Tinha dificuldade para dormir e começou a sonhar em infravermelho.
O que o fez parar? “O ponto de ruptura aconteceu quando estávamos no encalço de um cidadão americano que diziam ser provavelmente o próximo Bin Laden. O cidadão era americano, e eu tinha jurado proteger os cidadãos americanos. Acredito que nesse caso o que estávamos a fazer era errado, e foi nessa altura que decidi virar as costas e abalar.
Muitos outros ficariam felicíssimos de ocupar a vaga que ele deixou.
Abaixo está a entrevista completa de Brandon Bryant no programa BBC’s Witness em que explica as suas reservas e o que o convenceu a deixar a posição.
(O operador de drones que disse “NÃO”- entrevista à BBC)

Testemunho
Outubro de 2001
Os Estados Unidos começam a bombardear alvos no Afeganistão por meio de drones. Brandon Bryant era um operador de drones americano.
Era a primeira vez que eu lançava um míssil Hellfire.
Ele lembrava-se especificamente desta imagem.
Era isto que eu ia ver a maior parte do tempo no meu ecrã. Aqui foi o preciso momento antes de dispararmos. O míssil ia cair entre os pés destas pessoas.
Nós víamos silhuetas, sombras de pessoas. E matávamos aquelas sombras.
Eu era o operador do sensor de drone MQ-1 Bravo Predator, ele controlava a câmera da aeronave. E também controlava o laser, se fosse ordenado disparar um míssil. Para lançar o míssil havia um sistema de controlo duplo: o piloto não podia disparar o míssil sem que eu disparasse o laser. Durante 4 anos tive sobretudo o turno da noite; no turno da noite era de dia no Iraque e no Afeganistão. Sabíamos que estavam lá seres humanos, nós os víamos viverem as suas vidas, fazerem as suas coisas, colocarem bombas na berma da estrada e depois voltarem para casa e abraçarem os filhos; e aqui diziam-nos que eles eram os maus da fita.

A primeira vez que disparei um Hellfire foi no dia 26 de Janeiro de 2007. Algumas semanas depois disparei o segundo, também no Afeganistão. Na ocasião, acreditávamos que os dois homens que estávamos a seguir ainda estavam dentro duma casa, uma pequena cabana; podia ver-se a luz pela janela da casa. Íamos disparar contra eles.
Nada fora do normal estava a acontecer. Disparámos o laser, e eu lá sentado a pensar: “Vamos lá fazer isto”. Quando faltavam uns 6 segundos para o impacto, sai da casa uma pessoa pequena, corre lá para fora, volta a entrar e o míssil impacta! Eu estou lá sentado e digo: “Meu Deus, o que foi aquilo? O que foi aquilo? O que foi aquilo?” E o piloto responde: “Ah, parece que foi uma pessoa”. Não ligou nada. Não ficou absolutamente nada incomodado. Nem um bocadinho. E eu perguntei ao coordenador da missão: "Pode perguntar ao operador do ecrã o que foi aquilo?" E ele responde: "Após reexaminarmos o vídeo, parece que foi um cão.” E eu pensei: “Não pode ser! Não foi um cão coisa nenhuma. Eu acredito que foi uma criança.” Fiquei agoniado. As ações em que estávamos a participar eram legais e justas? Deixei de dormir porque voltava para casa e sonhava com aquilo. Sonhava em infravermelho.
O ponto de rotura aconteceu quando estávamos no encalço de um cidadão americano mas não conseguimos apanhá-lo. Diziam que possivelmente ia ser o próximo Bin Laden. Ele era um cidadão americano. Estas eram as pessoas que eu tinha solenemente jurado proteger desde que isso fosse certo, e acredito que o que estávamos a fazer naquele momento era errado. E foi então que decidi virar as costas e abalar.
Brandon Bryant deixou o programa de drones em abril de 2011. Disseram-lhe que tinha ajudado a matar 1.626 pessoas nos seus 4 anos e meio de serviço.

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