Cometa McNaught, em 2007 Dentro de algumas horas o cometa C/2012 S1 ISON atingirá o periélio, o ponto de maior proximidade do ...
Dentro de algumas horas o cometa C/2012 S1 ISON atingirá o periélio, o ponto de maior proximidade do Sol, a apenas 1,165,000 km da superfície. Parece muita coisa, mas se você levar em conta que o diâmetro do Sol é de 1,392,684 km, o cometa passará colado. O ISON foi descoberto por astrônomos russos em 2012, e foi chamado pela mídia de cometa do século, disseram que iria brilhar mais que a Lua. Bobagem, esse é Marte
Ainda não dá pra ter certeza, mas ou ele é um cometa de longa duração, com órbita de 400 mil anos, ou é um cometa único, daqueles que ultrapassam a velocidade de escape do Sol e saem do Sistema Solar. O problema é que ele está no limite do limite, a diferença cai na margem de erro das observações. O Minor Planet Center calculou a excentricidade da órbita do ISON em 1.0000019. O JPL calculou em 0.9999977109551715. Abaixo de 1 o objeto fica no Sistema Solar, acima, sai.
O ISON não é especial, mas está recebendo uma atenção especial dos cientistas. Por quê?
A explicação mais simples é porque ele está lá. Hoje temos tecnologia para estudar em detalhe cometas, que são meras pedras de gelo comum e gelo seco misturados com terra, como o fundo do isopor do tio que vendia sorvete na porta do seu colégio. Só que são pedras de gelo sujo LINDAS e cheias de informação dos primórdios do Sistema Solar.
Se sobreviver ao encontro com o Sol, prosseguirá em sua órbita, chegando ao ponto mais próximo da Terra dia 26 de Dezembro, mas só será visível do Hemisfério Norte (Thanks, Obama). O ISON está em uma órbita quase perpendicular em relação ao plano do Sistema Solar, entrando por baixo e saindo por cima. Estima-se que ele atinja um brilho pelo menos igual ao de Vênus, o que garante um bom espetáculo.
Neste momento ele está a menos de 4 milhões de Km do Sol, a uma velocidade de 1 milhão de Km/h. Aqui:
A NASA concentrou em uma página as informações quase em tempo real, começarão a transmitir em algumas horas. Entre outras fontes serão usadas as sondas gêmeas STEREO e o telescópio espacial SOHO, autor da imagem acima. E antes que você pergunte, a manche preta é o braço que segura o disco de metal que tampa o Sol, pro brilho não ofuscar a câmera e conseguirem observar as labaredas, explosões e cometas.
Aqui você acessa as imagens mais recentes do SOHO, mais recentes tipo… minutos atrás.
Agora, a parte divertida.
Na Idade das Trevas gente de mente limitada acreditava que comentas eram mau agouro, prenunciavam tragédias e que os Sábios e Poderosos escondiam informações sobre eles. Por idade das trevas entenda 2013. Sim, há um monte de retardados com sites de teorias da conspiração falando todo tipo de sandice, desde que há um blecaute na mídia até -Retardus Maximus- que o ISON é o “cometa da profecia”, cairá no Sol e causará os tais “3 dias de Trevas”.
Sim, eu sei, é totalmente retardado imaginar que um cometa vá “apagar” o Sol, mas piora. É lixo reciclado, estão repetindo as mesmas bobagens que falaram sobre o Elenin, um cometa que em 2010 iria trazer o fim do mundo mas pra desespero dos apocalistas, se fragmentou.
Vamos então a um pequeno questionário sobre o ISON, pra acalmar os ânimos:
1 – É raro um cometa passar tão perto do Sol?
Sim e não. Temos cometas o tempo todo, veja a lista parcial dos descobertos em 2013. Muitos cometas passam mais perto ainda, o que faz com que caiam, se desintegrando na heliosfera, cometas suicidas são bem comuns, os vídeos são legais. O ISON está sendo badalado por estar passando BEM perto, mas com boa chance de não se fragmentar.
Aqui um vídeo criado com imagens da sonda STEREO, mostrando o ISON e outro cometa, o 2P/Encke, descoberto em 1786.
Os dois estão bem distantes, e o Encke não se aproxima mais do que da órbita de Mercúrio. No vídeo dá para ver como uma rajada de vento solar afeta a cauda dos dois cometas, mas mais do ISON, à esquerda.
2 – O Sol pode alterar a trajetória do ISON?
Pode. Já está alterando. Se não fosse a gravidade do Sol o ISON seguiria em linha reta para sempre. A alteração na trajetória de um corpo celesta causada por uma estrela é o que chamamos de órbita. O que o Sol NÃO pode fazer é alterar essa órbita. Para isso ele teria que perder ou ganhar MUITA massa, colidindo com um buraco negro, por exemplo, e se isso acontecesse o ISON seria a menor de nossas preocupações.
3 – O ISON está no caminho da Terra?
Não. Não está no caminho da Terra, não vai bater na Terra e SE algum fragmento da cauda nos atingir, será poeira, imperceptível e normal, não vai afetar a média de 15 mil toneladas de detritos, poeira e meteoros que caem na Terra todos os anos. Na verdade não há nem COMO o ISON atingir a Terra, a órbita dele é toda errada pra isso, veja:
A quantidade de energia necessária pra alterar essa órbita exigiria algo muito mais catastrófico que um cometa.
4 – Quando vou poder ver o ISON?
Não vai. Ele está próximo demais do Sol pra ser observado a olho nu, e agora começará a subir, indo pro “alto” do sistema solar, pra nós do Hemisfério Pobre é péssimo pras observações. O pessoal do observatório de Paranal não deve estar nada feliz, mas o Universo em momento algum teve a obrigação de nos agradar.
5 – E se o ISON cair no Sol, vamos todos morrer?
O pessoal que adora apocalipse está doido por isso, mas cometas caem no Sol toda hora. O ISON tem na maior estimativa 5Km. O Sol tem 4,366,813 km de circunferência. Mesmo que fosse feito de antimatéria, não faria nem cosquinha. Em 1994 o cometa Shoemaker-Levy 9 se fragmentou e colidiu com Júpiter. O maior impacto ocupou uma área de 6000Km. A energia da explosão equivale a 6 milhões de Megatons. Mesmo assim Júpiter só ficou com umas manchas na lataria, que depois desapareceram:
Para tristeza dos teóricos da conspiração o Universo é bem menos frágil do que imaginam.
7 – O que vai acontecer com o ISON afinal?
Boa pergunta. Ele pode sobreviver à passagem pelo periélio e dar um belo show em Dezembro. Também pode termo quase todo seu gelo evaporado, e se tornar uma bola de lama quase invisível nos telescópios, pode se fragmentar e se dispersar, continuando em sua órbita. Também pode se fragmentar em pedaços pequenos e ser evaporado pela temperatura de um milhão de graus da coroa solar.
No momento as apostas estão, infelizmente, se concentrando na fragmentação e evaporação.
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